Nas asas do amor soberano, ditosos eram os poços,
as fontes.
Nas praças, esvoaçavam libélulas, flores de laranjeira,
limoeiros frondosos.
Gazelas airosas, nos jardins amenos, recitavam o vinho,
a seda, as roséolas da aurora. Num gahzal antigo, os alaúdes cantavam,
as pedras o seu destino azul confirmavam,
e as raparigas, em safiras brilhantes, sua herança de luz
transmudavam,
porque, das redomas de paixão, contemplando a sua amada,
Al-Mu'tamid, um dia, dissera: - Vem noite, sumptuosa e opulenta.
Vem noite. Nas minhas pálpebras, acende os nenúfares,
os dedos de cetim, carmesim e púrpura.
Em mim, canta para sempre, o paraíso
que roubei ao tempo, nos prados verdes,
entre o ouro e silêncio, na núpcia velada, dos teus cancioneiros de música. Maria do Sameiro Barroso, Lisboa, 30 Abril 2005
7 comentários:
Que não se atrevam os cavaleiros cristãos do norte... Párem frente às muralhas do Castelo!
É tempo de reflexão face à beleza e força interiores deste belíssimo poema
Muito belo.
Saudosas volúpias entrelaçadas entre a Autora e Al Mu'tamid.
Regressei ao Al-Andaluz e reencontrei a mística árabe neste belo poema
Tudo a condizer.
antes de recolher, um olhar muito terno pelas vossas palavras.
grata.
começo a ter o hábito de vir aqui, e isso deve ser bom. gostei de ler o poema, e para acompanhá-lo coloco aqui um do meu heterónimo Jacob Kruz
No jardim de crisântemos
Amor, és a mais pura das mulheres.
Não precisas dos doze meses
de mirra e especiarias
a que foram votadas as mulheres
do rei Assuero.
E porque nada pedes, a ti dou-me
no jardim de crisântemos.
Beijo-lhes os capítulos,
tomo o aroma do teu ventre
e sereno, adormeço.
Jacob Kruz
é bom é mesmo muito bom. venha, José!
esperamo-lo a qualquer hora, mas ao entardecer, prometemos o cheiro inebriante dos laranjais sulinos...
...ao Jacob a cumplicidade de Myriam,
"alguém se aproxima / o sol
( estrela, astro, calor )
abraça-me e seduz
.música em mim.
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