sombrias, liga as redes, o transe, os monumentos,
os remos e as rimas genesíacas,
a água ardente rumando, entre a proa e a popa, ao ocidente,
ao espírito de Deus, às nuvens, à neve e ao mercúrio
- um barco deslizando. Sempre ouvi falar da cabeça vazia, da vertigem
e do corpo que se despenha, em sereníssimos acufenos,
sobre um branco alfabeto que movimenta o sono,
revolvendo as sílabas roxas, como entranhas,
auras de pedra. Algures, um silêncio inventado, outra forma de existir,
o corpo hesitante escrevendo o canto, a reminiscência. Por vezes, tenho pensado que poderia escrever o meu lugar,
quando inóspita era a matéria,
na magia geológica de estratos simplificados,
vazando as rosáceas, o vazio entre as letras. Porque a terra ardia, pelo seu centro doloroso, sobre pálpebras,
orquestras negras.
E eis que chego à imagem exacta do meu rosto,
ao terceiro acto da Valquíria.
A minha vida era redonda, como uma papoila,
rompendo todos os textos.
Tremia de medo.
A relva tinha joelhos tímidos, os meus olhos voavam. Eu era uma chama humedecida exaltando o sangue
e os ritmos ocultos, o corpo, os meteoros,
deslumbrados arco-íris, sonhos petrificados
e a matéria luminosa
de todas as metamorfoses.
Maria do Sameiro Barroso, inédito, in " Idades Sonâmbulas".
9 comentários:
A visita de uma querida Senhora...Poeta!
Um beijo, Maria.
Sinto saudades de outros dias, em que se escreveu Poesia ao sul.
Maria do Sameiro, aqui fica um beijinho, já com saudades...
Um beijo, Maria do Sameiro!
Um forte abraço sulino.
Marco o ponto para deixar um outro abraço.
Um beijo.
muito obrigada, meus Amigos!
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