02/11/2005

o círculo do desejo

O destino é célere em seu espanto quando tudo se torna subitamente impossível. Cada curva é o assomar do desejo fértil e a razão irrompe pressurosa num dissipar da luz que invade os membros e nos arrasta para longe das emoções que já inundam a cabeça e os pés. Viandantes somos nesta peregrinação errante pelas veredas do desejo.
Desejar é uma outra maneira de saborear os olhos e com eles sorrir às mãos que guiam tal caminhar apressado na direcção do impossível. Desejar será, ainda, um outro modo sereno e meticuloso de medir as distâncias entre o ser e o existir. Existimos quando viajamos a caminho do que somos só para nós mesmos. Seremos quando o caminho percorrido nos dá a grata certeza de termos viajado satisfeitos para fora do nosso limitado círculo de acções e reacções.
Se um verbo pode acender a noite, as estrelas serão flores num universo de emoções e o jardim do desejo ficará perene em sua flamejante primavera.
A quem ofereceremos as rosas de tal estação? Ao mito, ou à emoção? Para nós guardaremos os espinhos como consequência deste viajar sem remissão.
Augusto Mota, inédito, in "Geografia do Prazer", 2000.

6 comentários:

Anónimo disse...

Deslumbrante este desdobrar de registos com que Augusto Mota nos surpreende, diariamente.

Anónimo disse...

E aqui me perco no cansaço de outros olhos, desejando, no entanto, sempre mais.

Anónimo disse...

Nunca é demais repetir a superior qualidade dos textos deste SENHOR - Augusto Mota.
Que publique muitos mais assim, meu amigo!

Anónimo disse...

Não guarde, para si, todos os espinhos, meu Amigo, porque cada rosa tem de ter a sua dose específica. Retirá-los é despejar a flor das suas defesas naturais.
E indefesa, a rosa murcha muito mais depressa.

Anónimo disse...

e, como estão, como habitualmente, certos, meus Amigos!

um forte abraço.

Anónimo disse...

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