Estreitava o caos, a dialéctica das sombras, os dias da criação.
Abraçava a luz.
Era como se o mundo fosse translúcido e mágico,
como um perfume raso,
como um ovo marinho que rebentasse,
porque algo já não cabia dentro dele,
e num deslumbramento que tudo abarcasse,
pudesse de novo nascer, com as folhas tenras, os pássaros
e os répteis, até chegar aos mamíferos. Eu era antiga, como uma fonte, o ar era sagrado.
Pelos campos, a turfa, os umbrais vazios,
as lágrimas estéreis,
um clamor volátil, onde eu descobria indómitas cisternas,
a lua e os vergéis luminosos. Os dias eram longos, povoados de mar, estrelas e solstícios.
Os olhos límpidos acordavam sobre as flores,
saindo pela noite, devastada pela escuridão dos incêndios. Mágicas eram as folhas, e eu nascia em cada ser,
com os cavalos e os prados azuis.
Pelos olhos ancestrais, as aves surgiam,
as penas de veludo, pavões do céu ( aves de Juno ). E eu podia assim nascer, narrar a poesia, a criação,
crescer no silêncio e dizer por dentro de que se alimentavam os habitantes das flores. Maria do Sameiro Barroso, inédito, in " Idades Sonâmbulas".
2 comentários:
Um jogo de sedução subtilmente idealizado pela Poeta Maria do Sameiro.
Um beijo.
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